[:pb]O Planejamento Estratégico Hospitalar é a principal ferramenta das instituições hospitalares que buscam organizar e priorizar seus objetivos, transmitindo para a organização em todos os seus níveis uma visão clara e objetiva de um novo rumo a ser seguido.
No entanto, realizar uma leitura eficaz dos ambientes interno e externo, e então, realinhar adequadamente estrutura, processos e pessoas em função de um novo posicionamento pretendido, pode ser algo mais difícil de se conceber na realidade do que simplesmente no imaginário.
Informações operacionais ausentes ou imprecisas, comunicação vertical inadequada e deficiência de habilidades de liderança e desenvolvimento nos escalões inferiores são ingredientes que podem comprometer, do diagnóstico à implementação, qualquer tentativa bem-intencionada de realinhamento organizacional para o sucesso.
Como consequências opostas às desejadas, surgem a frustração em grande escala, erosão da credibilidade dos gestores, troca generalizada de acusações e cinismo por toda a organização.
Os assassinos silenciosos da estratégia
Alguns médicos chamam de “assassino silencioso” o colesterol alto que, sem manifestar sintomas, causa obstrução progressiva dos vasos sanguíneos. Da mesma forma, conforme expõem Michael Beer e Russell A. Eisenstat, existem obstáculos organizacionais que agem despercebidos e bloqueiam a implementação da estratégia e aprendizado nas organizações.
São seis os principais assassinos silenciosos da estratégia organizacional segundo os autores:
- estilo gerencial autoritário ou “de mínima interferência”: executivos se reúnem para discutir problemas estratégicos, mas percebem que as principais decisões já foram tomadas. Omissões na mediação de conflitos ou em aquisições importantes para a empresa opõem-se a um estilo de liderança comprometida que zela verdadeiramente pelos resultados.
- conflito de prioridades e má coordenação: são duas barreiras que andam de mãos dadas. A presença de estratégias que concorrem pelos mesmos recursos promove brigas entre grupos internos que se formam a favor de uma ou de outra.
- líderes ineficazes: líderes que não cooperam entre si. Atuam apenas dentro dos limites de seus “territórios” por medo de perder poder.
- comunicação vertical inadequada: colaboradores reconhecem problemas importantes mas, por falta de uma abertura que favoreça o diálogo franco com seus superiores, preferem manter sigilo.
- habilidades de desenvolvimento e liderança inadequados: executivos de níveis mais baixos não têm acesso programas adequados de treinamento para liderarem as mudanças requeridas pela nova estratégia.
Para uma estratégia bem implementada, evite o "sanduíche de ar"
É tentador e cômodo, porém ilusório, considerar que uma estratégia bem elaborada e eficazmente comunicada à organização equivale a uma estratégia implementada.
No que diz respeito a validação, realismo e apropriação coletiva de uma estratégia, merece atenção um fenômeno que a autora Nilofer Merchant descreve como “sanduíche de ar”.
No ritmo em que gurus da administração discutem benefícios do empoderamento de funcionários, a autora avança e caracteriza de forma contundente o processo de planejamento estratégico tradicional como o que garante, por excelência, uma desastrosa lacuna entre as camadas superior e inferior de uma organização.
Empresas que possuem um “sanduíche de ar” têm uma visão clara e direcionamento futuro nos escalões superiores, a realização da estratégia nos níveis operacionais e nada no meio. Nessa situação, o espaço é preenchido com mal-entendidos, confusões e desinformação de toda ordem.
Ali, onde deveria estar o recheio do sanduíche, falta tudo o que é essencial para conectar visão e direção de forma objetiva:
- debate de opções
- discussão e compartilhamento de premissas
- identificação e mitigação de riscos
- questões que necessitam rastreamento
- uma infinidade de elementos que precisam ser gerenciados
Dessa forma, segundo a autora, algumas estratégias já nascem destinadas ao fracasso simplesmente pela forma como são formuladas.
Uma estratégia elaborada sem ampla participação dos níveis organizacionais perde a oportunidade de confrontamento com a realidade mais profunda da organização, onde de fato se deveriam ponderar os riscos e alternativas para atingimento dos resultados.
Em outras palavras, quando a companhia tem um sanduíche de ar, os detalhes e decisões mais valiosos para que a estratégia tenha sucesso são deixados de fora do planejamento estratégico.
Ademais, por esse ponto de vista, uma grande ideia sem um conjunto de pessoas preparadas que a entenda é equivalente a uma má ideia.
Informações ruins afetam o planejamento estratégico hospitalar
Para Drucker e Mintzberg, hospitais estão entre as organizações mais complexas e difíceis de se administrar. Tal complexidade caracteriza de modo especial a criticidade de informações válidas, atuais e confiáveis para o seu planejamento estratégico.
Em uma análise, os autores Londoño, Morera e Laverde – expoentes de um importante modelo para a formulação de estratégia no contexto hospitalar – relatam ocasiões em que informações geradas num hospital não podem ser utilizadas em processos decisórios, por não se enquadrarem às necessidades, serem deficientes em qualidade ou até mesmo, inoportunas.
Dentre os problemas que a falta ou imprecisão de informações podem acarretar ao planejamento estratégico, destacam-se:
- compreensão insuficiente da realidade organizacional durante o diagnóstico
- dificuldade e imprecisão na elaboração de cenários
- imprecisão e estabelecimento equivocado de prioridades
- falta de clareza para o estabelecimento de metas e KPI’s
- direcionamento estratégico equivocado
- não-identificação ou identificação tardia de desvios durante a execução e monitoramento
São fatores que desqualificam os dados para utilização:
- inconsistência de informações provenientes de diferentes fontes internas
- duplicidade de dados
- falta de confiabilidade de dados armazenados, sobretudo por origem em lançamentos manuais
- fragmentação da informação pelos diversos setores
Conclusão
Observar uma estratégia fracassada se alastrar por uma empresa é como ver um tsunami atingir o continente, arrastando tudo por onde passa. Além das oportunidades desperdiçadas pelo fracasso de um plano, desmotiva a equipe, degrada a confiabilidade nos gestores e gera cinismo de forma generalizada.
Segundo alguns autores, apesar dos esforços, algumas estratégias já estão condenadas desde o começo pelo modo como elas são formuladas.
O bom planejamento estratégico hospitalar projeta mudanças, e por isso deve contemplar meios para garantir os processos, competências e apoio necessário para atingi-las.
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