O Brasil tem experimentado uma crescente demanda dos serviços de assistência à saúde, ao mesmo tempo em que a sociedade cobra por uma saúde com mais acesso e qualidade.
A atividade médico-hospitalar exige investimentos consideravelmente altos em infraestrutura, capital humano e tecnologia de ponta. Em nosso país, ela opera sob forte regulação de receitas advindas do Sistema Único de Saúde (SUS) e das administradoras de planos de saúde, normatizadas por tabelas de preços que oferecem pouca margem.
Diante de um dilema em que as instituições hospitalares buscam equacionar o custo do atendimento com uma estrutura capaz de suprir a demanda com qualidade em níveis aceitáveis, a gestão de suprimentos é tida como estratégica, uma vez que responde por um dos principais centros de custos e está diretamente associada à segurança de pacientes e aos desperdícios em hospitais.
Assim, é crescente a atenção que se tem dado às áreas e processos importantes do ponto de vista da eficiência e uso racional de recursos nestas instituições, como a logística de medicamentos.
A logística de medicamentos
O conceito de logística possui origem em atividades militares de organização estratégica e, modernamente, é compreendido como um conjunto de atividades relacionadas a planejamento, implementação e controle de fluxos de materiais, produtos, serviços e informações, de um ponto de origem ao de consumo, de modo a satisfazer as necessidades dos elementos a serem servidos ao longo do processo.
Em hospitais, a farmácia hospitalar é o departamento responsável por garantir que o medicamento seja disponibilizado conforme a demanda. Suas atribuições são diversas e passam por gerenciamento, seleção e padronização de medicamentos, logística, distribuição e dispensação de medicamentos, seguimento farmacoterapêutico, farmacotécnica, informação de medicamentos, ensino e pesquisa.
No que se refere à logística de medicamentos, os objetivos principais são disponibilizar o medicamento conforme a demanda, armazená-los de forma adequada e garantir controle qualidade e rastreabilidade.
Estes objetivos, por sua vez, desdobram-se em uma série de processos como: definições de especificações técnicas e quantidades para aquisição, elaboração de critérios para seleção de fornecedores, incorporação de tecnologias para controle e rastreabilidade, gestão do armazenamento e de estoques, e implantação de sistemas de distribuição e dispensação racional que assegurem a chegada dos medicamentos em condições adequadas no tempo e para o paciente certo.
Fontes de desperdícios em hospitais
De acordo com o Lean Institute Brasil, desperdício é tudo que não cria valor para o cliente. Como clientes, no caso dos hospitais, consideramos os externos (pacientes em tratamento, familiares aguardando) e os internos (médicos, enfermeiros, gestores).
Peter Drucker coloca os hospitais na categoria das instituições com maior complexidade operacional e dificuldade de gerenciamento, e parece que tal complexidade confere a eles um desafio extenso para o controle das diversas fontes de desperdício. Estudos apontam que produtos e serviços hospitalares são acometidos por ociosidade e desperdícios da ordem de 20% a 30%.
Quando se fala de desperdícios em hospitais, nem sempre estes estão relacionados a materiais e insumos, mas também a outros recursos igualmente importantes da organização. Dentre as principais fontes e formas de desperdício, são citadas: retrabalho, espera, movimentação, estoques, transporte, excesso de processamento, desconexão e talento.
Estas falhas ocorrem em diversos processos e áreas de um hospital, mas encontram vulnerabilidade especial na logística de medicamentos. Perdas de produtos e rupturas nessa cadeia podem resultar em prejuízos não somente de ordem financeira, mas também, de vidas.
Retrabalho, espera e movimentação
O retrabalho está relacionado à necessidade de refazer algo que não foi feito como se deveria. Se está envolvido em um processo que remete à segurança do paciente, como nas atividades da prescrição à administração de medicamentos, passando pela dispensação, nem sempre é possível corrigir. Mas também pode estar associado a informações incompletas e os seus efeitos sobre a comunicação.
Já a espera, que é considerada uma das maiores causas de desperdício, é facilmente identificada, pois geralmente gera irritação. Um profissional de enfermagem que aguarda pela separação de medicamentos na farmácia, por exemplo, quando não a possui à disposição em sua unidade.
A perda por movimentação consiste em pessoas se movendo sem necessidade. Pode ser o caso do exemplo anterior e também estar relacionado ao primeiro item. No caso de alteração de uma prescrição, por exemplo, o deslocamento do profissional é ainda multiplicado.
Estoques, transporte e excesso de processamento
Um estoque eficiente possui apenas o que será necessário para um determinado período. Em se tratando de medicamentos, o excesso pode ocasionar perdas por validade expirada. A falta pode levar à interrupção crítica de tratamentos e gerar custos adicionais por aquisições de emergência. Em alguns hospitais, pode haver ainda redundâncias e ruídos de comunicação entre farmácias centrais e satélites.
Já a movimentação desnecessária de materiais e informações representam gastos de energia que geram custo e não agregam valor. O leva-e-traz de medicamentos e informações pode acarretar tempo adicional de processamento e transferência de informações entre bases de dados.
Desconexão e talento
Ocorre em decorrência de comunicação deficiente e etapas mal conectadas, e impacta na continuidade dos processos. Falta ou excesso de medicamentos, horas extras e ociosidade coexistindo.
O último, mas não menos importante, refere-se aos desperdícios do potencial humano e impacta na limitação da capacidade organizacional de resolução de problemas. Não dar a devida atenção aos colaboradores e às suas percepções sobre os processos nos quais estão diretamente envolvidos impede o acesso a informações gerenciais valiosas para melhorias contínuas.
Conclusão
Com a crescente e merecida importância atribuída ao termo sustentabilidade, combinada às pressões dos diversos stakeholders internos e externos pela eficiência e utilização racional de recursos críticos da saúde, sejam eles do contexto público ou privado, a logística de medicamentos assume papel estratégico nos hospitais.
Percebe-se que são variados os fatores que ocasionam desperdícios em hospitais nessa cadeia, passando-se muitas vezes, por corriqueiros e inerentes à rotina. Por isso, enxergá-los é importante e constitui um primeiro e relevante passo para a redução de perdas, custos e, principalmente, das faltas de medicamentos.
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